A Conversão de Constantino

07/06/2013 21:35

Nas proximidades do Natal do ano de 312, o imperador romano Constantino o Grande, enfrentou Maxêncio, um seu rival ao trono de Roma. Nas vésperas das duas batalhas que travou então ele jurou ter escutado vozes divinas bem como assegurou ter visto claramente signos no céu que lhe davam o ganho da causa. Esses acontecimentos, lendários ou não, tiveram notável efeito na história da fé do mundo ocidental visto que a vitória de Constantino na ponte Milvio, que cruzava o rio Tibre, acelerou a conversão dos romanos à religião de Jesus Cristo.

Os sinais do céu

 

 

Constantino o grande (imperador entre 306-337)
"Uma surpreendente conjuntura fez com que a ação de Constantino pela Palestina tivesse uma repercussão histórico-universal que se estendeu por muitos séculos."

J.Burckhardt – Die Zeit Constantinus des Grossen , 1853

 

Segundo Eusébio de Cesaréia, o primeiro historiador da igreja cristã, falecido em 341, foi o próprio imperador Constantino o Grande, quem lhe confessou ter tido as duas visões que o convenceram de que Cristo o escolhera para missões extraordinárias. A primeira delas deu-se nas vésperas da batalha Saxa Rubia, quando ele teria visto no céu, em meio as nuvens, a poderosa imagem da cruz e uma voz que lhe dissera Meus Pace est cum Vos . . .In Hoc Signo Vinces, “Minha paz está contigo... com este signo vencerás”. E de fato, assim se deu. Apesar de inferiorizado, Constantino bateu fácil o então seu rival chamado Maxêncio. Não havia, entretanto, vencido a guerra. Dias depois, em 28 de outubro de 312, um pouco antes de ter que atravessar a Ponte Milvio sobre o rio Tibre, travando uma outra batalha para poder chegar ao centro de Roma, novamente ouviu uma voz. Desta vez ela ordenara-lhe que removesse a águia imperial dos escudos romanos, colocando um outro símbolo no seu lugar. De imediato Constantino providenciou a alteração , afixando neles as letras “chi” (“c” em grego, que tinha forma de um xis) e “rho” (“p” em grego), que vinham a ser as iniciais gregas de Cristo, logo encimadas pela coroa de espinhos. Os inimigos foram esmagados nas estreituras da ponte, e o próprio Maxêncio pereceu afogado no Tibre.

Aparentemente aquela era mais uma das tantas batalhas travadas entre os caudilhos romanos - começadas quatro século antes pela vitória de Sila no ano de 82 a.C. - , para decidir quem seria o senhor dos destinos da Cidade Eterna. Porém não foi assim. Ela, a batalha da ponte Milvio, mudou não só o império mas boa parte do mundo. No ano seguinte à vitória, em 313, em sinal de gratidão, o imperador vitorioso publicou o Édito de Tolerância em Milão, concedendo liberdade religiosa aos cristãos, considerando sua fé como religio licita. O alivio entre os perseguidos foi imenso. A longa caçada que o governo romano movera por dois séculos e meio contra os seguidores de Cristo, com sua esteira de mártires, vítimas da tortura e de flagelos mil, chegava ao seu fim.

Uns anos antes de Constantino alçar-se ao poder, Diocleciano um dos seus antecessores, culpando os cristãos pelo incêndio do palácio da Nicomédia, ocorrido em 303, ordenara uma implacável batida geral em todo império contra eles (encarcerou inclusive São Nicolau, o Nicolau de Myra, um velhinho de barbas bem brancas que adorava presentear a meio mundo, carinhosamente conhecido mais tarde como Santa Claus, o nosso Papai Noel). Foi a última que eles sofreram, pois com Constantino tudo se alterou, tanto é que ele determinou a construção de basílicas por todos os lados para celebrar sua adesão à Revolução da Cruz. Todavia, mesmo convertido à doutrina da mansidão, o imperador não livrou-se das paranóias e das brutalidades inerentes ao cargo. Insuflado pela imperatriz Fausta, sua segunda mulher, Constantino ordenou, em 326, que estrangulassem o seu filho Crispo, em quem viu atos conspirativos

 

Em busca da expiação

 

 
Constantino vez a cruz no céu, o signo da sua vitória

Não suportando a morte do neto favorito, horrorizada com o acontecido, Helena, a imperatriz-mãe, desancou-lhe o verbo, passando-lhe uma reprimenda em regra. Inteirando-se do caso, das maquinações da nora, é bem provável que a augusta matrona tenha exigido que Constantino, carrasco do filho, executasse também a esposa, que até então lhe dera cinco outros filhos. Obediente à matriarca, ele assim o fez, determinando aos seus sicários que esfaqueassem Fausta na hora do banho. Deu-se-lhe então uma enorme culpa. A morte de Crispo e de Fausta deixou Constantino e a sua mãe arrasados. Caíram em depressão. Foi então que Helena, quase uma octogenária, seguramente em busca da expiação dos pecados, partiu de Nápoles para a Palestina, a pátria piedosa de Jesus e das relíquias sagradas. Se bem que já existisse em Jerusalém um roteiro dos Lugares Santos, fixando os passos do galileu na cidade, Helena pôs mãos à obra.

Com os vastos recursos do império à disposição, e mesmo da fortuna pessoal dela, do filho e da ex-nora assassinada, com impressionante dedicação e energia, liderando uma equipe de arqueólogos, arquitetos e engenheiros, ela determinou a construção do Santo Sepulcro e de inúmeras outras obras sacras espalhadas pela Terra Santa. Não só isso. Numa das escavações feitas no alto do Gólgota, em busca do sepulcro onde o corpo de Cristo teria sido colocado findo o suplício, encontraram três antigas cruzes bem próximas umas das outras. Foi a glória de Helena. O próprio lenho onde o Senhor fora sacrificado, a Santa Cruz, caíra em suas mãos. A augusta mãe sentiu-se então redimida (a Igreja Cristã também , canonizando-a como Santa Helena). De alguma forma ela supôs que tal graça era sinal de que os crimes do filho estavam perdoados. E assim, resultado de batalhas vencidas, de crimes seguidos de arrependimentos, o cristianismo se afirmou como religião oficial do império romano e de parte considerável do mundo.

O Alvorecer do Cristianismo

 

 

  Quando Augusto, no vigésimo ano do seu império, promovia o recenseamento da sua população, nascia Jesus Cristo num estábulo na cidade de Belém da Judeia, onde reinava o idumeu Herodes. Perseguido ainda nos braços de Sua Mãe, fugia para o Egipto, retirando-se depois para Nazaré. Trabalhou com seu pai durante trinta anos. Recebeu o baptismo de João Baptista, seu precursor. Pregou a sua doutrina durante três anos. Arrastado aos tribunais pelos fariseus e traído por Judas, foi condenado à morte no tempo do prefeito Pôncio Pilatos, tendo sido crucificado no Gólgota entre dois malfeitores (no reinado do imperador Tibério)

  Difundida a sua doutrina através dos apóstolos foi Pedro escolhido para 1º papa, tendo sido crucificado em Roma de cabeça para baixo. Paulo, apóstolo vibrante dos gentios, foi degolado em Roma, porque como cidadão romano, não podia ser crucificado.

  Difundida através da vastidão do império romano a nova doutrina viria a sofrer dez perseguições terríveis que originaram o martírio de milhares de cristãos, cujo sangue derramado no Coliseu foi «semente de novos mártires», na expressão de Tertuliano. Refugiados nas catacumbas, (galerias subterrâneas perto de Roma), lá exerciam o culto divino e sepultavam também os seus mortos.

  Com o «édito de Milão», em 313 (no tempo do imperador Constantino), que dava liberdade aos cristãos, o cristianismo difundiu-se por toda a parte.

 


Baptismo de Constantino